Recentemente surgiu no Youtube uma proposta relacionada ao Forum Social de Davos. Esta proposta solicitava as pessoas que deixassem suas idéias em vídeo ou texto sobre o que poderia ser feito para mudar a realidade da América Latina.
Infelizmente eu estava editando um trabalho em vídeo e não consegui dar a minha contribuição. Passado algum tempo entrei no espaço para observar a participação da galera e fiquei sinceramente triste com o que vi. Exceto por ‘meia dúzia’ de sensíveis depoimentos relacionados à transformação das mentalidades, o resto era de fato: um resto de Humanidade. Desculpem o peso das palavras.
Mas as contribuições postadas eram de um terrivel mal gosto. A verdade é que as pessoas esqueceram do argumento inicial proposto e partiram para agressões de todo o tipo, umas contra as outras. Inclusive detonando a participação do escritor Paulo Coelho. Cá entre nós, independente da velha lenga-lenga de se gostar ou não da escrita do Paulo, o que mais me chamou a atenção foi como o sucesso de alguns atinge frontalmente a miséria de espírito de outros – principalmente quando tentamos construir juntos um momento de reunião e convergência.
Seria tão difícil assim : Pensar em comum? Considerar possibilidades alheias as nossas? Considerar que outras pessoas podem ter sucesso, embora pensem diferente de nós?
Por outro lado é compreensível que num mundo regido pela competição desenfreada e separativísmo absoluto, inclusive como tônica educacional, não ocorram milagres em massa.
Cada vez mais me exercito para acreditar na amplitude das consciências, por que o milagre dos milagres já tornou-se velho chavão: assumir para si a responsabilidade que apontamos ser dos outros.
Como disse, certa vez Einstein: “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito!”
Parodiando o gênio: Triste realidade esta em que uma proposta de se pensar como sanar nossos problemas torne-se justamente a arena de nossas divergências.
Como perdemos oportunidades! O que no final das contas revela uma enorme falta de esperança e desamor.
Não consegui mais contribuir e fiquei apenas a pensar, que é o que mais tenho feito nos últimos anos. Pensava em como eu posso fazer para direcionar todas as minhas artes em prol de uma maior compreensão pessoal e coletiva. Gostaria que pudessemos em conjunto alcançar maior amplitude de consciência. Tento amadurecer através de minhas expressões. Faço isso, melhor focada, desde 99 e só agora vislumbro lá no final de um imenso e tortuoso túnel, o meu caminho, de certa maneira preambularmente caminhado..
Bom, já que eu não consegui produzir o meu videozinho a tempo de participar daquele fórum, vou expandir aqui o que eu acho que poderia acrescentar positivamente para se mudar a situação não só da América Latina como do mundo.
Quando perambulei pela França, Espanha e Portugal fazendo exposições e ralando de toda maneira, percebi que existiam pessoas vivendo suas filosofias de vida independente da política vigente. O que quer dizer: trabalhavam e educavam seus filhos em comum, umas se servindo do que as outras poderiam oferecer como serviço e assim vivendo da permuta. É claro que ainda assim interagiam com a sociedade condicionada em busca de um ou outro produto ou serviço, mantendo estreita ponte com o sistema de massa, porém sem mais se dispersarem como indivíduos singulares que somos, por uma vida de hábitos e tradições atreladas as aparências. Sem dúvida uma atitude libertária na direção dos próprios valores, tal e qual Thoreau nos legou com o exemplo de sua vida.
Além dos exemplos de autonomia da Europa, em termos de ‘reuniões de grupos afins’, sei que o mesmo ocorre em várias partes do mundo e mesmo no Brasil. Existe, por exemplo, uma comunidade em Bom Jardim, aqui no Rio de Janeiro, que literalmente ‘cria a sua própria realidade’ de maneira auto-sustentável, construindo suas casas com materiais alternativos, recicláveis, de maneira muito mais econômica. Realizam também o que chamam de ‘leitura da paisagem’, ao explorar a natureza local, respeitando suas propriedades e condições inerentes, longe da proposta tecnicamente especializada e intermediária em que se baseia a economia da sociedade industrial. Lá, ao meu ver, se aprende a velha arte xamânica do desapego rumo a sabedoria por ressonância direta com a Natureza.
Por exemplos como os aqui citados, dentre tantos outros, eu acredito ser possível constituir grupos de interesses comuns (cada qual embuído na construção de realidades afins). Grupos de autônomos que interajam entre si de maneira totalmente independente e supram boa parte de suas necessidades sem recorrer a velhos hábitos – como quem não tivesse diante de si toda a riqueza de uma vida a ser explorada. Assim estaríamos investindo efetivamente numa realidade intrínseca a nossa humanidade.
O Poder Político está nas nossas mãos…
É preciso compreender a importância vital de nossos investimentos. Onde eles se concentram? Em nossa natureza ou nas aparências? Para tanto é necessário deixar preconceitos separativistas de lado e perceber que a realidade são tantas quantos seres humanos existirem no mundo (na faixa de 6,7 bilhões). Enquanto não percebermos que é o separativismo que nos conduz alienando a todos do princípio vital, continuaremos a investir TODAS as nossas energias em grupos de fanáticos por: política, futebol, intelectualidade, religião ou quaisquer disputas de ego. Jamais seremos seres livres, muito menos, Humanidade.
É legal ler, Thoreau, o pai da chamada desobediência civil que inspirou Gandhi. Fiz um pequeno multimídia homenageando Thoreau, publicado no canal Terra Virtual aqui do site, o link está aí embaixo. CLIQUE no txt do Thoreau!! E Som ligado, por favor!
http://www.globalaio.com/desobediencia_civil.html
https://globalaio.wordpress.com/2008/05/26/em-ano-de-eleicoes-desobediencia-civil